~#APRECIADORES DO ABISMO#~

sábado, 31 de outubro de 2009

~# ☥ O GRANDE PICADEIRO ☥#~



Clanc...Clanc...Clanc!
O barulho forte das marretas ecoava por toda aquela cidadezinha do interior. Os curiosos ficavam andando de lá pra cá, extasiados ao ver tanta coisa diferente.
Homens passando com roupas coloridas, puxando jaulas de animais e fazendo muita algazarra, mudando a rotina do lugar.

A grande tenda estava sendo armada.

- Mãe olha um macaco!- exclamava uma criança alvoroçada
quando via aquela figura pulando freneticamente de um lado para o outro, chamando a atenção das pessoas que ali se aglomeravam. Elas nem imaginavam que se tratava de um anão vestido de macaco.
Deviam ter uma renda muito baixa, pois não possuíam muito luxo como os outros circos costumavam ter, aquele circo havia pertencido a um velho alcoólatra que cheio de dívidas, se viu obrigado a vendê-lo de uma hora para outra e os artistas que não tinham para onde ir, continuavam a se apresentar normalmente.
A única coisa que mantinha o circo em pé era o Show de Horrores e os palhaços, que quando entravam no picadeiro deixavam as crianças explodindo em gargalhadas com suas brincadeiras sem graças, mas elas não se importavam, pois nunca tinham visto um palhaço antes. Eram palhaços de maquiagens fortes, sapatos descomunais, cabelos coloridos e sorrisos falsos.
O Show de Horrores era a maior atração e a mais freqüentada pelos adolescentes, pois apenas os maiores podiam entrar mas os mais novos sempre davam um jeitinho de assistir ao espetáculo muitas vezes de graça.
Dentro da tenda mal iluminada, havia um bebê de duas cabeças dentro de um vidro grande, coberto por um líquido amarelo e viscoso. Gêmeos siameses que conversavam entre si, (devia ser divertido ver um deles fumando enquanto o outro não suportaria o cheiro da fumaça). Indo mais adiante, um bezerro com três olhos, um cão com seis patas e uma mulher muito gorda. Ainda na tenda de horrores, havia um homem de aparência simiesca com o corpo coberto de pelos que lembrava e muito nossos antepassados pré-históricos era um tanto rude e todos o chamavam de Charlie.

Charlie, o macaco.

A noite caia e mais um espetáculo começava. Malabaristas, mágicos e palhaços. Após o show, uma mãe desesperada gritava pelo nome do filho que havia desaparecido, mas não deram muita atenção, pois era normal as crianças se desgarrarem das mães em locais onde há um acumulo muito grande de pessoas. Deram uma busca infrutífera no circo e nada encontraram.
No dia seguinte o circo continuava seu trabalho rotineiro. Alimentar os animais, limpar as arquibancadas para mais um show. Os animais estavam inquietos e Charlie parecia mais agitado e agressivo do que de costume.
E assim antes do show começar, os palhaços se maquiavam, para arrancar risadas histéricas de criancinhas lindas de bochechinhas rosadas. Enquanto se arrumavam, o assunto era um só. O desaparecimento da criança.
Todos conversavam sobre o acontecimento, pois não era um sumiço normal...
- Seria esse circo amaldiçoado?
- Mais uma criança desaparecida nessa cidade também como se não bastasse aquela em Cruz das Almas!
- Vamos é ficar sem emprego logo, logo e aí? Viveremos do quê?
Eles pareciam mais preocupados consigo mesmo...
Na grande tenda, cheia de remendos, as apresentações começavam. Lá fora uma noite de lua clara, só se ouvia o barulho dos aplausos e assovios em meio ao som dos instrumentos desafinados.E novamente no final do espetáculo mais uma criança tinha desaparecido. Os pais já não queriam explicações. Achavam que o circo tinha algo a ver com os sumiços, já que eram duas crianças desaparecidas.
As pessoas da cidade estavam furiosas, com tochas em punho prontas para incendiar o circo.
Depois de tantas buscas pelos arredores sem que nenhuma pista fosse encontrada, alguém grita...
Saindo de traz das barracas escuras vinha Charlie, com passos incertos e carregando um corpo inerte, que jazia em seus braços ensangüentados.
Ninguém se conformava com o que viam. Qual ser faria tal coisa... Principalmente Charlie, que só tinha a aparência assustadora, mas era inofensivo...
Foi então que o dono do circo vendo seu empreendimento ir por água abaixo ordenou que entregassem o suposto assassino às autoridades. Infelizmente ninguém impediu que fizessem justiça com as próprias mãos. O pobre homem nem mesmo pôde se defender, afinal nem falar ele sabia a não ser emitir grunhidos desconexos.
No dia seguinte, logo pela manhã, o velho circo estava de partida...
A grande tenda era dobrada e o elenco guardava as fantasias.
Os malabaristas, anões, mágicos, palhaços.

Palhaços...

E um certo palhaço tomava muito cuidado em empurrar os restos de seu café da manhã para dentro de uma velha arca negra, corroída pelo tempo, e limpar as marcas de sangue de sua roupa de babados cor de rosa.
Tudo guardado para ser usado novamente na próxima cidade, onde ele faria as lindas criancinhas de bochechas rosadas

Rirem...Rirem...Rirem...

~# ☥ UM PLANO FUNESTO ☥ #~


_... é verdade, precisamos de mais. Tenho fome de sofrimento e sede de sangue... – concluiu a estranha criatura.
_Deve ser algo fora do comum, que deixe as pessoas perplexas, perturbadas, algo que fuja da normalidade, da mesmice.... – emendou a outra, que parecia ser ainda mais aterrorizante que a primeira.
Ambas permaneceram em silêncio raciocinando sobre seu plano macabro. O silêncio não era total somente pelo som asqueroso que elas emitiam ao respirar.
A penumbra e o odor fétido que dominava o lugar indicava que não se encontravam no plano físico. Elas estavam além...
_Antes as coisas eram mais fáceis, mas andamos exagerando na dose a tal ponto que as pessoas parecem anestesiadas emocionalmente. Parece que não se abalam com mais nada.
_Tem razão. A última comoção que conseguimos foi com o caso da menina que caiu da janela, mas graças à imprensa, que conseguimos manipular com maestria.
_Fomos perfeitos naquele episódio, os humanos são facilmente manipuláveis.
_Já foi mais fácil, bem mais fácil. Precisamos de algo grandioso agora, uma coisa que marque...
Novamente o silêncio se instalou e ao longe os urros desesperados de almas menos afortunadas denunciavam o funesto local em que aquelas criaturas se encontravam.
_Creio ter encontrado a solução para nossos problemas...
A outra olhou-a curiosa.
_... pobres morrem todos os dias, ninguém se abala mais com isso. Adultos perturbados sexualmente que abusam de crianças inocentes também estão se tornando comuns, quase um clichê. Assassinatos, inanição, acidentes automobilísticos... ninguém parece mais se abalar com isso. Mas tenho algo em mente que aterrorizará esses humanos miseráveis e nos renderá alimento em abundância.
A curiosidade da criatura aumentava ainda mais a cada palavra pronunciada pela sua interlocutora, que tinha seu olhar tétrico perdido no vazio.
_Matemos pessoas abastadas, ao menos com um nível de vida acima da maioria. Mostremos que a morte não acomete somente os menos afortunados. Incluamos alguém de renome, de sangue nobre, de linhagem. Todas de uma única vez e de uma forma que elas dificilmente possam compreender o que as matou. Algo que torne seus últimos instantes de vida aterradores, confusos, desesperadores... As autoridades, a mídia e a população ficarão confusas, sem saber o que causou a morte delas, ou quando finalmente descobrirem já terão nos alimentado sobremaneira com sua dor, revolta e lágrimas...
_Maldição, diga logo qual o plano, odeio esse suspense irritante! – esbravejou a outra criatura sentada sobre sua grotesca cauda escamosa.
Com um sádico sorriso nos lábios grossos e verrugosos a outra prosseguiu.
_Derrubemos um avião, um daqueles enormes. Cheio de pessoas endinheiradas, estudadas e respeitadas. Engenheiros, estudiosos, artistas, empresários, executivos... Pessoas de diversos países. Isso fará com que o sofrimento se espalhe pelos quatro cantos do mundo. Derrubemos a aeronave sobre o oceano assim será bastante difícil encontrar seus restos mortais e descobrir a causa do acidente. Façamos com que os especialistas se sintam impotentes diante do desastre pelo maior tempo que for possível. – e uma gargalhada horrenda foi ouvida.
_Sim!!! Engenhoso. Mostremos que os poderes das trevas não devem ser menosprezados. Isso nos renderá alimento, muito alimento.
Num instante as criaturas se evadiram daquele local esquecido pela luz e naquela segunda-feira o acidente do vôo 447 da Air France tomou conta dos noticiários do mundo todo...
Que a alma dos que pereceram em tão trágico episódio possa descansar em paz.

domingo, 4 de outubro de 2009

~# ☥ AGONIA DE UM VAMPIRO ☥#~


Acordo num sobressalto uma claridade forte invade meu ataúde, meus olhos teimam em se acostumar com a luz, o mais estranho é que não era a luz do luar, a qual eu estava acostumado pois me acompanhava a séculos.
Levantei-me sem medo e sai, olhei ao redor estava no meio de um dia muito claro e quente onde ia cominhando e me sentia muito bem...bem até demais.

O calor invadia cada poro do meu corpo já a muito esquecido, a brisa ondulava meus cabelos eu que já não lembrava como isso era bom. Estava acostumado com os ventos apenas de noites de tempestades e relãmpagos onde reinava apenas a escuridão, e os roedores ao meu redor rastejando em meio a poeira do chão trincado pela ação do tempo eram meus únicos companheiros.
Os sons dos pássaros não eram aqueles que cantavam a noite nas sepulturas e nos galhos retorcidos das velhas árvores em volta de meu lar quebrando o silêncio com sua sinfonia melancolica de morte e agouro.

Continuei andando estava num campo verde...
Nossa como era amplo e lindo!
Era tudo estranho de mais , e a luz do sol não feria, cheguei a me questionar, como teria saido daquele pesadelo no qual você me colocou com seu beijo naquela noite?
Desde então eu vagava a esmo a procura de uma resposta a qual não encontrava, apenas despertava na noite seguinte de um sono sepulcral.
Lembro-me que havia me dito que seria livre e teria a eternidade a minha disposição, faria qualquer coisa que quisesse pois bem onde está a liberdade então?
O sol brilhava nas águas de um riacho cristalino e apressado vi no reflexo meu rosto, como era belo...aquilo que um dia havia perdido.
estava realmente livre agora?
...

Ouço sinos dobrando ao longe tenho medo de abrir os olhos, mas o faço...um sonho apenas um mero sonho!
Levanto-me e saio de meu ataúde abro os portões enferrujados da minha prisão, e caminho, falta pouco a luz virá logo...caminho então o mais longe possivel do meu abrigo do sol e me vejo correndo, logo por traz de um árvoredo ele nasce, com sua beleza destruidora ouvi dizer que ele está na sua época mais quente mais intensa, eu que já havia esquecido como era ser aquecido por tal força, ele toca meu corpo com seus ráios, fachos de luzes explodem como prismas e refletem cada desejo, cada sonho que de mim foram arrancados...

A liberdade enfim!
O sol nunca pensei que fosse tão bom...

Tão...
Bommm...

(R.Raven)