~#APRECIADORES DO ABISMO#~

sábado, 9 de janeiro de 2010

~ ☥ INTERCÂMBIO RACIAL ☥ ~


* Parceria de Ravenna Raven e M. D. Amado


Não havia sangue em teu corpo.
E não me refiro a feridas ou sangue de outras pessoas. Realmente não havia sangue circulando em suas veias. Teu olhar era tão negro quanto a própria cor de teus olhos. O toque gelado da ponta de seus dedos em meu rosto, me preenchia com uma sensação mista de medo e tesão. O beijo, ao contrário, era inexplicavelmente quente. Muito quente. E digo isso também de forma figurada.


Não me recordo como fui parar em seus braços. Minha última lembrança de vida é a de estar voltando para casa, de madrugada, cochilando no metrô. A última voz humana que ouvi foi do condutor anunciando a estação Praça da Árvore. Depois disso, não consegui mais abrir os olhos por um bom tempo. Sentia frio. Muito frio. Sabia que estava deitado e nu, sobre alguma superfície áspera e morna, contrastando com o ambiente gelado ao meu redor. Quando ouvi sua voz em meus ouvidos, consegui então abrir os olhos e pude vê-la pela primeira vez. Pavor e excitação. Beleza e monstruosidade... Ainda não consigo definir bem o que sinto quando a vejo.

Ela me tomou pelas mãos, me ergueu e me disse algo que nunca mais poderei esquecer...

“Como é estar do lado errado da estaca, caçador?” – a criatura transmutada em mulher solta um sorriso pelos lábios vermelhos. “Bastante ousado, mas um tanto imaturo.”

Senti-me como um rato entre uma parede e um faminto felino de saias. Todo o meu ser pedia para empurrar esta mulher e sair correndo com todas as minhas forças, mas algo me impedia de desviar os olhos dos seus seios e isso estava evidente no volume crescente em minhas calças. Esta resposta me causou certa confusão, pois nos meus estudos os vampiros eram tidos como criaturas anaeróbicas e assexuadas.

“Os seus estudos são meramente humanos, caçador”. – disse como se lesse meus pensamentos. “O real entendimento da nossa raça não se encontra em grimórios ensebados de abadias ou círculos secretos de velhos anciãos. Para entender nossa espécie, olhe-se no espelho e veja sua história. Matando seu próximo, enganando, pilhando. Sua espécie é tão semelhante a nossa que poderíamos conviver lado a lado... mas quem domina o mundo hoje?”

Sinto um gosto amargo na minha garganta e tento articular uma desculpa, que agoniza e morre. Levanto-me e no mesmo momento uma força invisível me arremessa ao chão. A vampira continua sua história.

“Hoje você caminhou um passo glorioso no entendimento dos vampiros, caçador. Sabe o que somos, sente a nossa sede e agora vai sentir como é nossa morte. Pense nisso como um intercâmbio racial”. – a vampira então quebrou o assoalho como se fosse uma placa de isopor e saltou dentro do buraco, levando consigo a cortina pesada e empoeirada do quarto.

O sol invadiu o recinto como uma fera assassina e o caçador mal teve tempo de se esconder antes de explodir numa nuvem de cinzas negras. De dentro do buraco, a voz suave da vampira ecoava pelo quarto abandonado como se fosse uma espécie de maledicência.

“Vampiros... humanos... quem são os verdadeiros monstros”?

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