~#APRECIADORES DO ABISMO#~

segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

OS RATOS


Os ratos

Não sei, ao certo, como aquilo começou, mas, certamente, naquela altura, de nossa relação, tinha chegado a um ponto que não dava mais para ignorar, ainda mais depois dos últimos acontecimentos.
É claro que no início, bem no início mesmo, não havia nada ou quase nada que chamasse atenção para o fato. Apenas suspeitas. Mas foi aos poucos, mesmo, que começamos a notar.
As coisas, sem mais nem menos, desapareciam e reapareciam roídas, ou mesmo rasgadas, dentro e fora da casa. Deve ser um roedor – Comentou minha esposa no jantar.

No início, eram pequenos objetos: livros, cheques, e outros papéis. Mas depois de algumas semanas, aquilo foi se estendendo a objetos maiores e logo já eram cadeiras, mesas, quadros, roupas e porta retratos. De imediato, descartamos a possibilidade de roubo ou coisa do tipo. Afinal, que ladrão entraria numa casa só para morder contas de telefone, certidões e cartões de credito? Entretanto, estávamos tensos com todas aquelas invasões. Se é que era invasão. Eu considerava, até, que aquilo fosse alguma coisa de outro mundo.

Uma alma penada talvez... Era realmente estranho, afinal eu vivia a vinte cinco anos, com minha esposa, naquela casa e isso nunca havia acontecido em todo esse tempo que estávamos lá. Não tínhamos filhos, bichos, ou mesmo visitas na casa. Vivíamos, apenas, um para o outro, ali, entre aquelas paredes. Mas aquilo, lentamente, estava nos consumindo. Às vezes eu encontrava minha esposa triste, sentada no chão da sala – não havia mais cadeiras ilesas na casa - e saía para fumar um cigarro do lado de fora.
Que explicação eu daria se eu não tinha a menor idéia do que estava acontecendo?Eu estava me sentindo tão frustrado que passava mais o tempo no bar, bebendo, do que em casa. Naquela altura a minha barba era uma mancha preta e branca em meu rosto. Minha esposa já não me perguntava mais nada, apenas me olhava com uma profunda tristeza nos olhos. A casa toda era um só silêncio. Vivíamos mergulhados em nossas próprias memórias.
Qualquer coisa era motivo para nos refugiarmos no passado, cada vez mais distante. Teve uma manhã, chegando da noite, que eu encontrei uma fotografia antiga de uma viagem que fizemos ao México. Ah, guardei aquela foto, com todo cuidado e zelo, no bolso do meu paletó, mas depois, de alguns dias, eles sumiram como se jamais houvessem existido.

Provavelmente já estavam rasgados ou roídos, em algum canto. Não sei dizer, ao certo, quanto tempo durou aqueles dias de angustias. Mas na noite passada,quando estava quase dormindo, ouvi um ruído, que nem um sussurro pela casa adormecida. De alguma maneira, senti que naquele pequeno ruído estaria a chave de todos os nossos tormentos. Olhei para o meu lado, na cama, minha esposa não estava. Isso termina hoje - disse bem baixinho - para mim mesmo.

Era um mistura de medo e ansiedade que senti naquele momento. Fui, na penumbra, explorando a parede, fria, com minhas mãos tremulas até chegar à sala. A casa estava mergulhada numa escuridão tão densa que parecia que a noite era feita de alguma coisa sólida. Então, por descuido ou força do hábito, toquei o no interruptor. Logo, tudo ficou claro e eu vi o que jamais imaginara. Horror, horror... Naquela triste sala vi uma infinidade de coisas espalhadas, e bem no canto, a minha esposa mastigando alguns documentos, com entranha e mórbida voracidade.

Quando tentei falar algo, para impedir a insanidade daquele ato, percebi, com igual desgosto, que também havia papéis presos entre os meus dentes. Do lado de fora o dia caía como um peso sobre nossas cabeças, então, naquele momento de indecisa profusão, nos abraçamos.

Logo, a luz alcançaria os outros cômodos.



Fabiano Silmes

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

~# AS ADORADAS GÉMEAS#~



Quando se soube da súbita morte de uma das pequenas gémeas, o choque foi tremendo. Eram duas crianças extremamente doces e adoráveis. Quando uma espantava alguém com a sua alegre candura, educação e inteligência, a outra, logo em seguida, parecia conseguir ultrapassar esse inultrapassável trato social. Assemelhavam-se a dois pequenos anjos que os céus enviaram para iluminar as pessoas da Vila.

Os desgostosos pais não queriam acreditar que uma das suas preciosas filhas tivesse desaparecido, e o desespero era horrível de ver e sentir. Quanto à irmã, ainda com uma certa inocência em relação ao sentido da morte, permanecia imóvel e silenciosa.

O funeral foi uma triste e chorosa reunião popular, pois todos quiseram deixar um último adeus àquele ser maravilhoso. O próprio dia, que começara por nascer com um sereno azul celestial, no momento da derradeira marcha cobriu-se com um agreste manto cinzento.

Ao chegarem a casa, os incontroláveis pais foram encontrar a jovem vizinha, que ficara a tomar conta da irmã sobrevivente, num estado de desenfreada loucura e medo. Ao serem confrontados com aquela recepção, os melindrados pais temeram que a sua desgraça ainda pudesse ser maior, que algo houvesse sucedido à sua filha viva. Mas longe estavam de poder imaginar o que realmente estava para vir. A jovem rapariga relatou que a menina pedira para ficar no quarto, com uma apatia que ela deduziu ser derivada do falecimento da irmã e de todo o ambiente fúnebre que a circundava. Foi então que, momentos depois, pequenas gargalhadas e risos começaram a ser ouvidos vindos do quarto. A jovem não estranhou, pois julgou ser a menina a brincar – o que, de facto, até era verdade. Um pouco depois, ouviu o que lhe pareceu ser a menina a conversar sozinha. Decidiu ir confirmar que tudo estava bem, se a pequena precisava de alguma coisa. Bateu e abriu suavemente a porta do quarto e, enquanto perguntava se estava tudo bem, foi petrificada pela imagem das duas irmãs a brincarem juntas. Perante aquela visão, apenas conseguiu fugir para a cozinha e lá ficou, com a porta devidamente fechada. Ainda pensou em sair para a rua e chamar alguém, mas para tal teria de passar pelo corredor que dava acesso ao quarto das meninas, e isso intimidava-a bastante.

Os pais, atónitos, acorreram de imediato ao quarto das filhas e, para seu espanto, puderam confirmar o que acabara de lhes ser narrado. As duas meninas brincavam alegremente, batendo com as palmas das mãos uma na outra e entoando uma das suas habituais cantigas. A mãe soltou um grito, e perante a reacção, a espectral menina olhou para os abismados espectadores e encostando o frágil dedo indicador aos lábios ordenou-lhes que fizessem silêncio. Em seguida, a porta do quarto fechou-se violentamente, deixando apenas as duas crianças no interior. Os pais e a vizinha ainda tentaram abrir a porta, mas era impossível. Entretanto, ouviam-se os alegres risos das crianças. A sobrevivente parecia não estar afectada com todo aquele cenário de fantástico e de terror.

Trataram então de chamar o padre que, incrédulo, prontamente acedeu ao desesperado apelo que lhe era feito. Já na casa, o padre não teve dificuldade em abrir a porta do quarto das meninas, mas a sua alma tremeu quando vislumbrou a pueril brincadeira. As meninas olhavam para ele e a defunta cumprimentou-o com um amistoso e inocente “olá”. O padre tirou um crucifixo do bolso e começou a ler passagens de um salmo secreto, ao mesmo tempo que remexia no sal que trouxera no bolso. Os pais e a vizinha observavam, em pânico, encobertos pelo fraco busto do padre. Não houve qualquer reacção ao aparato religioso, por parte do fantasma. A mãe chamou pelo nome das duas filhas, e ambas acederam ao chamamento, mas responderam que estavam a acabar de brincar. Quando o padre lançou água benta na direcção do espectro, apenas a menina viva se queixou, vociferando em direcção à mãe que o senhor padre estava a molhá-la. O religioso, ao perceber a ineficácia do seu ritual, e após tentar sem sucesso comunicar com a menina morta, optou por tentar resgatar a menina viva para fora do quarto. Foi então empurrado para fora daquela divisão por uma força invisível, que fechou também a porta com violência. Estavam as crianças novamente encerradas no seu quarto. A viva parecia familiarizada com a ocorrência e não transmitia qualquer sinal de medo.

Uma hora havia já passado desde que o padre fora expulso daquele quarto. Do interior, apenas se ouviam as vozes e os alegres risos da diversão. As tentativas para arrombar a porta foram todas em vão e o desespero não deixava antever um fim para a situação. Para os pais, aquelas eram as suas duas filhas, apesar de uma pertencer já ao mundo dos não-vivos, pelo que o repartido e sincero afecto continuava a existir. Seria aquele fantasma, realmente, a sua filha? Essa era a questão que mais os fazia temer pela menina viva. Entretanto, o padre telefonava aos seus superiores e amigos, em busca de conselhos e auxílio.

Após alguns minutos de tenebroso silêncio, a porta daquele quarto abriu-se e a gémea viva saiu, calmamente, com uma normalidade que espantou os presentes. A mãe, correu de imediato a abraçar a filha, enquanto o padre olhava de soslaio para o interior da divisão, na tentativa de decifrar o fantasma. Mas o quarto ficara vazio, sem sinal de qualquer anormalidade. Com a emoção a tomar conta dos seus espíritos, os pais perguntaram à menina o que se tinha passado, se ela estava bem e onde estava a irmã. A menina, sem qualquer revelação de abalo, afirmou apenas que tinha estado a brincar com a irmã, pois dois dias antes tinham combinado fazer o derradeiro jogo que decidiria quem era a melhor naquele jogo de cartas. Como ficara combinado e ambas queriam saber quem ganharia, a irmã viera fazer o jogo com ela.

A menina morta ganhara o jogo. Em seguida, despedira-se da irmã e fora-se embora.

Os anos foram passando, o episódio foi esquecido, ou melhor, não relembrado, e a pequena gémea sobrevivente foi-se transformando numa bela rapariga. Os seus longos cabelos loiros e o olhar cor de céu fulminavam de paixão qualquer homem que com ela se cruzasse. O seu jeito delicado era igualmente cativante. No entanto, apesar de toda a graciosidade que ela irradiava, uma certa expressão de mistério parecia ocultar-lhe algo de anormal. De facto, ela nunca esquecera a sua falecida irmã, e também esta nunca a esquecera, pois todos os anos, no dia em que comemoravam mais um aniversário, o espectro da defunta aparecia à irmã. A irmã, era agora uma mulher, o fantasma, mantinha a forma de criança. Mantinham o segredo bem guardado, pois ninguém iria perceber ou acreditar que as duas irmãs, uma vez por ano, ainda brincassem juntas. Ninguém sabe do que falavam, que confissões partilhavam ou brincadeiras tinham.

Certo dia, em que mais um aniversário do nascimento das gémeas se celebrava, a bonita jovem tentava apressar-se para chegar a casa o mais rápido possível, pois sabia que a sua irmã voltaria a visitá-la. Para tal, decidiu cruzar o jardim da cidade que, apesar de extenso, encurtava bastante o caminho que ela teria de percorrer até à estação de comboios. Era um jardim seguro e o dia, apesar de perto do fim, ainda mostrava uns raios luminosos. Com passos rápidos e entusiasmada por voltar a rever a irmã, a desatenta rapariga não percebeu a presença, numa das mesas de madeira do jardim, de três homens, de aspecto sinistro, que jogavam às cartas, bebiam e lançaram provocações à sua passagem. Ela, quando finalmente percebeu que as obscenidades lhe eram dirigidas, decidiu ignorá-las e seguiu o seu caminho. Mas aqueles homens não ficaram satisfeitos com as palavras e começaram a persegui-la e a rodeá-la. O medo tomou conta da angelical figura, como um cordeiro que teme a inevitabilidade do sacrifício. Um dos homens começou a segurá-la, enquanto outro se aproximava. Ninguém passava por perto ou, se passou, não se quis intrometer e ser também vítima daqueles homens.

Subitamente, o terceiro homem chamou a atenção dos restantes para uma pequena menina loira que aparecera junto deles. Tentaram afastá-la, com rudes palavras e bruscas ameaças. A menina gritou então com uma voz demoníaca: -TAMBÉM QUERO BRINCAR! O maléfico trio sentiu um petrificante arrepio e foram obrigados a soltar a jovem. O vento começou a soprar fortemente, levantando pó e folhas caídas. O céu escureceu e as sombras tomaram conta daquele local. Dos arbustos circundantes surgiu uma matilha de enormes cães cobertos de sangue, pelo que se pode caracterizá-los como tendo cor de sangue, que saltaram raivosamente sobre os homens em pânico. Os dentes afiados dos estranhos animais começaram a rasgar fervorosamente a carne humano e o sangue jorrava em todas as direcções. Sarcásticos risinhos de meninas eram ouvidos enquanto decorria o macabro espectáculo. A pequena menina correu para a irmã e, abraçando-a, contemplou a carnificina com um impávido olhar. A jovem rapariga, ainda em estado de choque, apertou a irmã contra si e beijou-lhe a testa.

Tudo aconteceu em poucos segundos, ao que sucedeu um tenebroso silêncio e todo o aparato desapareceu deixando-as às duas perante os cadáveres dos atacantes. O importante é que estavam novamente juntas para celebrar mais um aniversário.

Com as cartas ensanguentadas, as duas irmãs fizeram mais um jogo, rodeadas pelos corpos desfigurados dos três atacantes. No final, a menina, exclamou com entusiasmo e sorrindo: - Voltei a ganhar!

Emanuel R. Marques

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

~☥Desassossego☥~


úlia estava deitada sobre o catre da cela branca. Ela estava presa a uma camisa de força e seus olhos buscavam o vazio das recordações: da velha casa onde vivera com o pai e uma madrasta que ela não gostava.

Muitas vezes costumava sair para o Bosque das Flores durante a noite. Chegava à trilha que levava ao riacho. Sentada na praia Júlia sempre esperava os pirilampos com suas luzes verdes acendendo e apagando repetidas vezes como se dessem sinais de alerta. Era nesse momento que sua mãe, morta há cinco anos, aparecia em forma de fada voando entre a luminosidade dos insetos.

“Seu pai está feliz. Eu estou feliz, Júlia”, dizia enquanto ziguezagueava em volta da filha. Júlia ouvia e esboçava um sorriso. Se sua mãe estava feliz porque seu pai estava feliz no novo casamento por que ela também não deveria estar? Na maioria das vezes, quando voltava para casa, encontrava o pai na sala de jantar, sentado à mesa com a madrasta.

Júlia dizia: “Papai...Mamãe está feliz porque você está feliz”. O episódio repetia-se a mais de dois anos e tornou-se um transtorno para o homem, que não achou outra solução a não ser internar a filha de 15 anos no Asilo Nossa Senhora das Dores. Quando os enfermeiros chegaram vestidos de branco Júlia ficou apavorada. A injeção foi a solução encontrada para acalmar a jovem. Desde aquele dia nunca mais que Júlia deixou de tomar injeções e ingerir comprimidos de todas as cores.

Desde que fora internada continuou a ver a mãe todos os dias e durante o dia inteiro: “Se seu pai está feliz eu estou feliz”. Cássia aparecia para Júlia, sua filha adorada, repetindo a mesma frase.


quarta-feira, 3 de março de 2010

~#☥A REBELIÃO ☥#~


A REBELIÃO

Não estou entendendo o que está acontecendo aqui!
As coisas estão vivas... e revoltadas! Meu escritório está escuro.

As luzes piscam insistentemente. O computador desligou sozinho e eu perdi muitas páginas de meu livro. Droga, vou perder o prazo!!! Vou para meu quarto... escrever a mão. Peciso escrever, preciso! Levanto-me, irritado com essas manifestações, quero sossego! De repente, cadeiras começam a se movimentar ameaçadoramente em minha direção... Socorro! Tento correr e sair da sala. A porta bate estrondosamente. Violento vento trava as janelas. Estou preso! De onde vem essa fumaça agora? E os vultos? O que são? Sinto-me levantar no ar. Estou sufocando. Quem está me matando? Alguma coisa ouviu meu pensamento. Ouço um sussurar, que arrepiou-me até a alma: morte...morte...morte...

Sou arremessado na parede... "fale sobre a morte... sobre a morte..." Todo o meu corpo dói muito. Agora, além da névoa, dos vultos, também sinto um calor insuportável. Parece que estou no inferno! Minhas roupas estão fervendo... Sinto dores horríveis... Alguma coisa começa a gotejar sobre mim... Fede! Socorro, estou sufocando... Quero viver! Sou um escritor! Quero viver... Fecho meus olhos e espero a morte... Nova dor, fortíssima... Não sei quanto tempo passou, mas quando abri os olhos, fiquei realmente surpreso... Estava no escritório, sentado diante do computador, tranquilamente redigindo meu novo livro de terror... À minha volta, tudo era paz e ordem... Teria sonhado? Coisa estranha, muito estranha...
(Thera Lobo)


quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

~#FLORESTA PROIBIDA#~

Caroline mudou-se para uma casa beirando uma densa floresta.
Ao descarregar suas coisas, um globo caiu e rolou para a floresta ia buscá-lo, quando repentinamente é agarrada por um velho; gritou e seus pais correram para socorrê-la; o velho então disse: é proibido entrar na floresta maldita, quem ousa, não volta! Caroline riu, mas o velho continuou: à 200 anos, uma mulher foi abandonada pelo noivo, que fugiu com sua melhor amiga, desesperada, fugiu para a floresta e enforcou-se no carvalho retorcido; dizem que na hora da morte fez um pacto, com o Abandonado, levaria todos que pudesse entregando suas almas e sangue, pela oportunidade de achar os dois culpados de sua miséria, e desde então, quem entra não volta. Caroline debochou do velho supersticioso, mas ele, ao partir, ainda gritou:

Preveni você!

À noite, Caroline só pensava em explorar a floresta e provar que o velho era doido. Ao perceber que todos dormiam, partiu.
Vagou, feliz concluindo que o velho era doido e ela estava certa, menina da cidade se assustar com folclore?! Até que farfalhar de pé nas folhagens a sobressaltou! Escondeu-se num tronco oco e então viu...uma mulher de vestido rubro, ou que parecia banhado em algo sanguinolento que deixava odor nauseabundo....ela estava atenta a algo, repentinamente salto e com garras infernais, agarrou um gamo, cravou suas presas enormes e potiagudas, estraçalhando o pescoço do animal que contorcia-se no solo,empapando-o de sangue.
Enlouquecida de terror, Coroline quiz fugir, mas pisou num galho seco, ao elevar os olhos, viu a criatura olhando diretamente para ela, olhos rutilantes, boca escorrendo sangue enquanto sorria famélica, sugeitando o gamo nas garras.
Caroline correu o mais que pode, mas ao virar-se para abrir a porta deu de cara com "ela" que faminta olhava-a,como um especto infernal, enquanto sangue escorria de sua boca ao colo; disse a Caroline, congelada de pavor: - Devorarei tua alma hoje! Agarrou Caroline e arrastou-a pelos cabelos até a Árvore dos Malditos no centro da floreta, sempre sorrindo com dentes bestiais, acariciou os ruivos cabelos de Caroline e a beijou nos lábios, sugando sua vida e entregano sua alma ao Abandonado, ao poucos Caroline secava como uma múmia, antes do fim a criatura trevosa, arrancou o coração e o devorou ainda pulsante, e agora Caroline não passava de um amontoado de gravetos, como muitos outros, aos pés da retorcida Árvore dos Malditos.

Nunca mais se teve notícias dela, apenas lascas e marcas de unhas arranhando do piso à floresta.

(Adriana La Terza)



domingo, 31 de janeiro de 2010

~☥ DRICA☥~


Ola! Sejam todos bem vindos a dor e a tristeza de minha vida.

Prazer meu nome é Andréia, mas podem me chamar Drica todos me chamam assim.

Nasci não sei onde, vinda não sei de onde e vivi nem sei porque.

Me lembro pouco de minha infância, fui em um orfanato largada logo que nascera pelo menos foi o que me disseram, daquele tempo só lembro da dor e de minha tristeza, nunca fora como as outras crianças nunca tive alegria da fonte que os outros tiveram, me lembro sempre andar sozinha sempre beirando ao abismo de meu ser durante toda minha tormentosa infância.

Aos oito anos fui adotada por um rico casal de origem nipônica, eles possuíam uma linda pousada no litoral, cresci neste mundo estranho tendo tudo de bens materiais, mas sem nunca ter tido amor, meu pai sempre ocupado nunca tempo o teve de me cuidar, minha mãe nunca me aceitou como se fora dela filha pois nunca quererá adotar a uma criança.

Na fina escola particular donde estudei sempre fora discriminada, tratada como bastarda, sempre eu fora uma criança triste, sem amigos, quase sempre isolada vendo meu destino sem norte, sendo pelas sombras absorvida dia a dia pouco aos pouco.

Quando ao Ensino Médio eu terminara, quis mudar, quis tentar ser diferente mudar a vida ser mais normal, briguei com meus pais fui para o sul tirar facu, de Veterinária, porque Veterinária bem a única coisa que realmente tive em minha infância de boa lembrança foi meu cachorro Fênix, ele fora minha única companhia durante anos de tétricas noites em soliguidão. Por isso acho que esta seria a mim a melhor escolha já que nunca conseguira me dar bem com as pessoas pelo menos os animais me entendiam, Fênix era como eu temerário, quieto e triste pequeno sempre se escondendo pelo cantos nem latir latia mas me fazia companhia sempre que estava triste ele me vinha se rosando na minha perna, com uma carinha de pidão essa creio fora a melhor lembrança de minha infância do meu único real amigo que dessa o tive.

Mas na facu nada mudou, não me inturmei com o pessoal, sempre sozinha comecei a sair, muita balada muita bebida, muito garoto muito boyzinho, doce ilusão de ser querida ser desejada já que o amor nunca me encontrara, quase no fim da minha facu encontrei alguém me apaixonei desta vez achei que seria diferente daria em fim pelo menos uma vês certo pra mim. Mas me iludi ele me traiu fugiu com outra e me amargurei acabou meu curso voltei pra casa, mas a pousada era muito isolada era triste no inverno tinha movimento só na época de verão de carnaval chorei pra papai me deixou trabalhar fora.

Agora era adulta independente, fui trabalhar na capital tanta gente num vai e vem quem sabe agora eu pudesse realmente me encontrar, pura ilusão realmente conheci muita gente na capital mas sei lá porque cidade grande é sempre assim, muita correria nem sei porque e nem se vê quem se esta por perto nunca soube o nome dos meus vizinhos de apartamento passou o tempo e conhecia só o porteiro Cassio e minha secretaria luiza do consultório. Oh! Triste sina de ser sozinha. Na capital consegui ser mais sozinha ainda em meio a multidão que no interior onde morava quase isolada só com meus pais.

Então veio a tragédia meus pais morreram de acidente o carro deles caiu em um desfiladeiro no Natal estavam vindo me visitar pois eu tive curso ate a véspera do natal naquele ano e não pude ir pro litoral naquele feriado era pra ser uma surpresa pra mim. Então larguei tudo voltei ao litoral assumi a pousada vaguei sozinha por muitos anos, inócua demente, absorta a minha lamentação e um mar de ilusões que tornou-se meu viver, entregue a tristeza passava as noites de bar em bar, bebendo ate cair saindo com tudo que é boyzinho que aparecia, virei a escoria não tinha mais pudor nem amor próprio. Anos e anos sem ter alguém nem pra me dar parabéns no meu aniversário se pode fazer uma festa sem dinheiro mas sem amigos não.

Hoje é meu aniversário estranhamente acordei alegre é um belo dia lá fora um sol radiante despertei com o toque do sol em meu rosto. É feriado aqui em minha cidade por isso hoje estou sozinha na pousada. Abri as cortinas de cetim no saguão de entrada e avistei ao mar tão calmo e límpido, resolvi banhar-me foi tão bom senti limpar-me a alma me senti tão leve, tão liberta mas estranho não me lembrara de como eu voltei a pousada naquele noite lembro-me da boate estava lotada bebi horrores, sai quase ao amanhecer me lembro entrar no carro mas do resto...

Bem deixa pra lá está tão bom hoje o dia que que importa foi só mais um porre e nem com ressaca eu fiquei. Voltei pra pousada avistei tantos carros, tanta gente que a anos não via. Fiquei alegre será que vieram me dar uma festa surpresa corri ate a entrada da cozinha da pousada.

Gritei!

- Ola André;

- Ola Fabio;

- Nossa a quanto tempo tia Eulália.

Mas estranho ninguém sequer me olhou parecia que eu estava invisível. Todos estavam se dirigindo a capelinha da pousada, antigamente a pousada tinha sido uma casa de Senhor de Engenho com muitos escravos ainda tinha o moinho onde era feito o açúcar pelos escravos a senzala e a capela sempre mantivemos se sabe turista gosta de coisa antiga bem voltando ao evento chegando a capelinha fiquei abismada por ver tanta gente muitos chorando entrei na porta todos sentados e vi minha secretaria a discursar.

- Que posso dizer da Drica, sempre foi uma alma boa, sempre preferiu se sacrificar a magoar alguém, é o ombro pra onde corria nas noites de tristeza e a pessoa que sempre esteve lá quando precisei, hoje digo com toda a certeza que te amo Drica você é sempre será a melhor amiga que tive.

Meus olhos encheram-se de lágrimas, corri para dar um abraço na Luiza, quando subi no Altar avistei um corpo.

Gritei!

-Nossa é um velório.

Levantei ao véu que cobria ao rosto do defunto. E fiquei paralisada vendo que a morta era eu.

Passei o dia ali olvido as declarações de meus ex-colegas de escola e profissão. A minha cozinheira da pensão sendo interrogada pela policia, dizia o investigador passando o laudo da morte.

- A Andréia Fuchiru, morrera após acidente de trânsito cito ao quilometro 30 da rodovia Almir Pasquali por volta das 6:50 Hs da manhã de Sábado dia 27/01/2010 sozinha e segundo o laudo com vestígios de embriagues provável causa do acidente dormira ao volante.

Acompanhei ao meu enterro numa linda cerimônia ali mesmo na pousada eu fora enterrada de frente ao mar junto aos meus pais.

No cortejo fúnebre haviam mais de 300 pessoas via a sinceridade da tristeza por minha morte nos olhos delas. Enfim senti que tinha deixado algo de valor em meu legado terreno, nunca imaginei que faria falta pra alguém ou que tinha tanta gente que se importa-se comigo.

Agora posso enfim partir em paz, dar alento e descanso a minha alma.

(Felix Ribas)


sábado, 9 de janeiro de 2010

~ ☥ INTERCÂMBIO RACIAL ☥ ~


* Parceria de Ravenna Raven e M. D. Amado


Não havia sangue em teu corpo.
E não me refiro a feridas ou sangue de outras pessoas. Realmente não havia sangue circulando em suas veias. Teu olhar era tão negro quanto a própria cor de teus olhos. O toque gelado da ponta de seus dedos em meu rosto, me preenchia com uma sensação mista de medo e tesão. O beijo, ao contrário, era inexplicavelmente quente. Muito quente. E digo isso também de forma figurada.


Não me recordo como fui parar em seus braços. Minha última lembrança de vida é a de estar voltando para casa, de madrugada, cochilando no metrô. A última voz humana que ouvi foi do condutor anunciando a estação Praça da Árvore. Depois disso, não consegui mais abrir os olhos por um bom tempo. Sentia frio. Muito frio. Sabia que estava deitado e nu, sobre alguma superfície áspera e morna, contrastando com o ambiente gelado ao meu redor. Quando ouvi sua voz em meus ouvidos, consegui então abrir os olhos e pude vê-la pela primeira vez. Pavor e excitação. Beleza e monstruosidade... Ainda não consigo definir bem o que sinto quando a vejo.

Ela me tomou pelas mãos, me ergueu e me disse algo que nunca mais poderei esquecer...

“Como é estar do lado errado da estaca, caçador?” – a criatura transmutada em mulher solta um sorriso pelos lábios vermelhos. “Bastante ousado, mas um tanto imaturo.”

Senti-me como um rato entre uma parede e um faminto felino de saias. Todo o meu ser pedia para empurrar esta mulher e sair correndo com todas as minhas forças, mas algo me impedia de desviar os olhos dos seus seios e isso estava evidente no volume crescente em minhas calças. Esta resposta me causou certa confusão, pois nos meus estudos os vampiros eram tidos como criaturas anaeróbicas e assexuadas.

“Os seus estudos são meramente humanos, caçador”. – disse como se lesse meus pensamentos. “O real entendimento da nossa raça não se encontra em grimórios ensebados de abadias ou círculos secretos de velhos anciãos. Para entender nossa espécie, olhe-se no espelho e veja sua história. Matando seu próximo, enganando, pilhando. Sua espécie é tão semelhante a nossa que poderíamos conviver lado a lado... mas quem domina o mundo hoje?”

Sinto um gosto amargo na minha garganta e tento articular uma desculpa, que agoniza e morre. Levanto-me e no mesmo momento uma força invisível me arremessa ao chão. A vampira continua sua história.

“Hoje você caminhou um passo glorioso no entendimento dos vampiros, caçador. Sabe o que somos, sente a nossa sede e agora vai sentir como é nossa morte. Pense nisso como um intercâmbio racial”. – a vampira então quebrou o assoalho como se fosse uma placa de isopor e saltou dentro do buraco, levando consigo a cortina pesada e empoeirada do quarto.

O sol invadiu o recinto como uma fera assassina e o caçador mal teve tempo de se esconder antes de explodir numa nuvem de cinzas negras. De dentro do buraco, a voz suave da vampira ecoava pelo quarto abandonado como se fosse uma espécie de maledicência.

“Vampiros... humanos... quem são os verdadeiros monstros”?