~#APRECIADORES DO ABISMO#~

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

~# ☥ A TRISTE SORTE DE EZEQUIEL MORAES ☥#~

*CLICK* Encontrado estranho animal nas florestas da áfrica Central. De acordo com as testemunhas era um mamífero quadrúpede revestido de escamas e com as patas dianteiras de leão e as traseiras de ave. A cabeça era de réptil como uma cobra ou lagarto e a língua, bifurcada...

*CLICK* O zoólogo e professor de História Natural T. Anderson e o explorador Paul Sladen descobriram um animal não catalogado na história da zoologia. Os nativos da área o chamam de “Olitau”; um réptil voador de coloração preta e dentes serrilhados como os de um crocodilo. Voava baixo e numa rapidez espantosa...
O dedo indicador de Ezequiel apertava nervosamente o botão do mouse e uma diversidade de imagens banhavam o rosto daquele velho homem, refletindo vez por outra a tela do computador nas lentes dos seus óculos, que teimavam em escorregar pelo nariz redondo e suado.

*CLICK* Avistado animal estranho nas encostas alpinas da Suíça, da Baviera e da Áustria. Os habitantes o conhecem por “Tatzelwurm”. Media cerca de sessenta a noventa centímetros de comprimento...*CLICK* ...de trinta anos foi avistado animal semelhante, de sessenta centímetros a um metro. Fusiforme e alongado...
-“Eu sei que você está envolvido nisso. Eu sei”! - Ezequiel Moraes era um velho arqueólogo que há vinte anos tenta provar para a humanidade o impossível. A veracidade sobre a existência do livro-pai dos livros. O legendário Necronomicon.

*CLICK* ... queda de pedaços de carne em Kentucky – 1876... *CLICK*...chuva de sangue em Granada – 1944... *CLICK*...pela noite que durou dois dias no México – Cuauhtitlan... *CLICK* *CLICK* *CLICK* *CLICK*... E as imagens banharam a face carrancuda de Ezequiel por toda a madrugada.

A manhã chegara e o sol esquentava a nuca do velho, que dormia debruçado na escrivaninha do escritório. Ao acordar, Ezequiel prepara-se para tomar o seu freqüente desjejum: um cigarro meio torto que dividiu com ele a fatídica noite e um copo de café frio.

Acendeu. Deu uma tragada. Baforou-a. “Sapos de duas cabeças no Kansas/aranhas aladas em New Yorkshire/ chuva de peixes no Saara...” - Onde está você, seu filho da puta!!!

Resolveu sair. Andando pela rua tinha o vício de escutar a conversa dos demais, preguiçosos em suas caminhadas pela manhã matutina e fria de outubro.

- ...das fazendas. Não se tem mais segurança nem na roça, compadre. No curral do Marcelino foram duas vacas premiadas. Se sangue nenhum!”. - escarra e cospe.

- Tão “falano” que é o tal do chupacabra, Zé! - faz uma careta e o sinal da cruz.

Ezequiel passa pelos dois caipiras e não consegue segurar uma expressão de asco. “Ignorantes! Só eu sei a verdade! - murmura baixinho, arremessando sua segunda guimba de cigarro pelo chão.

E um mês se passou se passou exatamente assim. Clique. Reflexo na cara, sono mal dormido, despertador solar, cigarro amassado e mais resmungos pelas ruas até que certo dia encontra um novo personagem entre suas caminhadas. Era um mendigo velho e maltrapilho, rodeado por pessoas e formigas que entravam e saíam pela sua boca e nariz. Pelo que parecia havia morrido em conseqüência do frio da madrugada.

Ezequiel nunca foi de rodear ”presuntos” ou acidentes, mas alguma coisa naquele homem (utilizando o termo “homem” somente para figuração, pois eu rosto contorcido e surrado pelo frio deixava-o longe de qualquer representação da espécie) chamou a sua atenção. No bolso do seu paletó encardido estava um pequeno disquete com a caixa protetora ainda lacrada.

-Por que não? – pensou, e como o vento agarrou o objeto sem que os populares notassem sua ação.

Chegando em casa a sua expectativa era enorme. Entrou como um raio no escritório com o disquete numa mão e meia garrafa de martini na outra. *CLICK*. A pequena tela de LCD lambia novamente o seu rosto que, ao invés de sisudo e preocupado, estava radiante e abobalhado. “Eu tenho certeza que agora finalmente te peguei!”

Um minuto. Dois. Cinco minutos e nada ocorria. A face do velho ia murchando novamente como uma flor no inverno até que de repente...o contato...

“pág. n° 104 do diário do Dr. Carlos Albuquerque – 15/06/1986.

Muito me foi passado nestes anos de pesquisa sobre o livro do árabe louco Abdul Al-Hazed (a face de Ezequiel brilhou como uma supernova), mas temo em pagar pelos ensinamentos. A quem estiver lendo este documento peço que delete toda a informação arquivada e livre sua alma imediat... *CLICK*...

*CLICK*... pág n° 106 do diário do Dr. Carlos Albuquerque – 17/06/1986.

TÍTULO: Necronomicon ET Mortis
OPÇÃO: Invocatio
ACESSAR: Sim / Não
SIM
Ezequiel ria como bobo até formar uma pequena espuma no canto de sua boca. “Desgraçado! Eu sabia que você iria se apresentar a mim, eu sabia! Eu sabia seu merda...”.

Excitado e trêmulo, acendia um cigarro atrás do outro e bebia seu terceiro Martini.

-A academia vai ver só. Vão ter que comer merda pra poderem ter acesso a esta belezura! Ah, se vão!

Invocações, litanias, gravuras, e a mente enevoada do pesquisador devorava páginas e páginas até que uma em especial lhe chamou a atenção. R’LYEH CTHULHU. Era uma página meio apagada devido a um mau funcionamento do scanner e com certeza tinha como fonte o próprio Necronomicon. No canto superior estava um pequeno texto, de escrita cuneiforme e possivelmente de origem sumeriana. Ezequiel não pensou duas vezes e acessou seu Web Translate para converter o artefato numa linguagem mais próxima à da humana.

Q’OND MTALLY DGLLT’A
BGOLLI XT’A AML’TA IIB
R’LYEH CTHULHU AML’TA IIB
AML’TA IIB CTHULHU
AML’TA IIB B’GHOLLEÉ
AML’TA IIB QSATDO-N
AML’TA IIB

O velho ficou pensando em como seria a garganta que pronunciaria aquelas palavras com precisão e o que elas significavam realmente. Leva então o copo de Martini a boca e nota que está vazio, assim como a garrafa. Ezequiel então se levanta e segue, pensativo, em direção da sala para preparar outra bebida.

Q’OND MTALLY DGLLT’A – Ao voltar, sente uma estranha formicação nas pernas e, por instinto, levanta uma das barras de suas calças e grita... grita... grita...

Gritos.

Até a altura dos joelhos pústulas e chagas se abriam como pequenas bocas, vomitando a carne que se liquefazia em pus. BGOLLI XT’A AML’TA IIB

Entorpecido pela dor e pelo horror Ezequiel tenta correr, mas no terceiro passo sente sua tíbia romper-se com o peso do seu corpo e cai. O velho então tenta se arrastar, mas a dor que sente quando sua bacia descarnada raspa pelo assoalho é lacerante. R’LYEH CTHULHU AML’TA IIB

AML’TA IIB CTHULHU – As costelas entortam-se e enroscam no carpete enquanto as vértebras cervicais rolam pelo chão como dados mal jogados num jogo de azar. AML’TA IIB B’GHOLLEÉ

Os gritos do velho Ezequiel agora não passam de borbulhas e gorgolejar quando sente as falanges estatelarem com as quedas do úmero e do rádio. AML’TA IIB QSATDO-N

O show de horrores só terminou com o ríspido rolar de um crânio de órbitas vazias pelo chão da sala. Tudo era silêncio até que se ouvem passos pela casa vazia e uma grotesca figura que cuspia uma grande quantidade de formigas adentra no escritório. O mendigo sorri ao colocar o disquete no bolso e vai embora dando pouca ou quase nenhuma atenção a pilha de ossos secos daquilo que a poucos minutos atrás foi um homem.

*CLICK* BZZZZZZZZZZZZZZZZ... *CLICK*…*CLICK*…*CLICK*…*CLICK*...

Tradução concluída com sucesso:

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ATERRAI PORTENTOSAS RAÍZES
PRIMEVAS E NEGRAS E LIVRAI-NOS DA CARNE
ONDE CTHULHU DESCANSA, LIVRAI-NOS DA CARNE
LIVRAI-NOS DA CARNE, CTHULHU
LIVRAI-NOS DA CARNE, B’GHOLLEÉ
LIVRAI-NOS DA CARNE, QSATDO-N
LIVRAI-NOS DA CARNE...

(Iam Godoy)

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