Ainda me arrepia só de pensar em tal episódio...
Minha família tinha se mudado para uma cidadezinha do interior bem retirada, apenas turistas passavam vez ou outra por lá.
Fomos morar num antigo casarão o qual meu pai havia adquirido num leilão, apesar de termos ido contra a idéia de morar no local, mas meu pai alegando precisar de descanso acabou nos convencendo.
Ele dizia que ali poderia sentir finalmente o cheiro do mato, do mar e o canto dos pássaros pela manhã estando enfim longe de toda aquela parafernália urbana e é claro, da poluição e outras coisas da cidade grande. Então minha mãe, meu irmão e eu concordamos relutantes em irmos com ele.
Uma semana depois, quando tudo já estava em seus devidos lugares, meu irmão Josué e eu resolvemos sair para explorar as redondezas do terreno que era realmente grande.
Era uma tarde abafada, de ventos quentes de verão.
Desobedecendo às ordens rígidas de minha mãe para que não fossemos longe devido à hora e o tempo que se fechava, caminhamos pelo quintal imenso da casa.
Mangueiras cobriam boa parte do terreno com suas sombras e me perguntava quem venderia uma propriedade inteira num leilão e tão barato? Lembro-me de ter feito essa pergunta a minha mãe e ela me disse que a casa pertencia a um senhor muito velho que não possuía filhos ou nenhum familiar que pudesse chorar sua morte, ficando então a propriedade em poder do banco para ser vendida.
Morrer sozinho sem ninguém para jogar flores em seu túmulo e nem para rezar um ultimo terço em sua memória devia ser horrível.
Andamos um bocado olhando cada fresta, cada ruína, cada lugar escondido e Josué parecia uma criança, apesar dos seus 17 anos. Descobríamos um mundo novo e diferente daquele em que estávamos acostumados até então.
Haviam vários casebres de madeiras ruindo, poços abandonados,lápides e moinhos entre outras coisas curiosas.
O tempo parecia passar mais rápido daqui de cima estávamos longe de casa.Eu a via lá embaixo, no meio das árvores de copas altas, seu telhado vermelho se sobressaindo com a chaminé fumegante.
Chegamos a uma espécie de galpão grande, cheio de buracos, onde fomos nos proteger da chuva forte que começava a cair fazendo uma barulheira no telhado de zinco.
E já começava a esfriar.
Já passava das cinco e o céu havia escurecido com as nuvens negras e carregadas.O aguaceiro formou grandes poças e o barulho nas telhas era ensurdecedor.
Peguei um caixote de madeira e me sentei a espera do final da tempestade, estava molhada e com muito frio e tudo o que eu queria era um bom copo de leite quente e roupas secas, mas cabia agora esperar.
-A mamãe deve estar preocupada.- disse Josué olhando por um buraco na parede.
-Preocupada? Ela vai nos matar!- disse Josué, agora parecendo mais preocupado ainda.
De repente vejo uma sombra furtiva no fundo do galpão e apesar da escuridão causada pelo tempo havia uma tênue claridade vinda dos buracos do teto e das paredes. Forcei a vista e fiquei perplexa quando vi uma figura pequenina. Uma não, duas meninas.
Era o que parecia, apesar da confusão tinham os cabelos negros escorridos até os ombros, deviam ter uns 3 ou 4 anos no máximo. Mirradinhas e descalças apesar do frio que fazia àquela hora, pulavam nas poças como se pulassem amarelinha. Josué não acreditava no que via.
-Que espécie de mãe deixaria crianças sozinhas assim no frio, na chuva. Será que mora alguém nos fundos dessa tapera?
-Não sei, devem ser vizinhos.- respondi sem conseguir tirar os olhos daquelas figuras que se aproximavam devagar, sempre pulando e confesso que estava morrendo de medo e mal conseguia me mexer.
Era um temor inexplicável.
Um raio caiu muito perto me assustando enquanto Josué se aproximava de uma delas a fim de perguntar o que faziam ali.
Olhei para o lado e lá estava ela.
Como teria aproximado tão rápido perto de mim sendo que estava tão distante quase no fundo do galpão chegava a sentir a respiração pensei em tocá-la, mas ela se virou, nessa hora Josué gritou e foi um grito de pavor que nunca mais vou esquecer.
-Os olhos!!! Os olhos!!! –ele gritava.
Os olhos eram apenas órbitas vazias escuras e carcomidas por vermes. A boca era enrugada, meio que retorcida e corroída como um buraco negro sem fundo de onde vinha um cheiro pútrido de mil sepulturas.
Os cabelos soltavam-se do couro cabeludo aos montes e pústulas de pus e sangue escorriam dos orifícios.
Saímos dali correndo sem olhar pra traz ou se preocupar com a chuva ou os raios, quando chegamos em casa totalmente encharcados não conseguíamos dizer uma só palavra para minha mãe já estava se descabelando de preocupação.
Só depois de uma boa xícara de chá bem quente e roupas secas, ai então contamos o que havia acontecido.
Minha mãe ouviu tudo horrorizada, foi ai que a vizinha uma senhora que cuidava da propriedade já há vários anos nos disse que aquele galpão era mal assombrado, pois ali naquele terreno eram feitos sacrifícios humanos em rituais de magia negra e as vitimas eram todas crianças da região que desapareciam. Algumas os ossos tinham sido encontrados ao redor do galpão, mas outras estavam perdidos em algum lugar.
Ela nos disse que teríamos de voltar lá e dar nosso perdão a elas e abençoá-las, pois estavam sem luz.
Mas e a coragem de passar por tudo aquilo de novo, onde estava???
Se ainda estão lá?...Não sei...
Talvez esperando uma próxima chuva!!!
Fomos morar num antigo casarão o qual meu pai havia adquirido num leilão, apesar de termos ido contra a idéia de morar no local, mas meu pai alegando precisar de descanso acabou nos convencendo.
Ele dizia que ali poderia sentir finalmente o cheiro do mato, do mar e o canto dos pássaros pela manhã estando enfim longe de toda aquela parafernália urbana e é claro, da poluição e outras coisas da cidade grande. Então minha mãe, meu irmão e eu concordamos relutantes em irmos com ele.
Uma semana depois, quando tudo já estava em seus devidos lugares, meu irmão Josué e eu resolvemos sair para explorar as redondezas do terreno que era realmente grande.
Era uma tarde abafada, de ventos quentes de verão.
Desobedecendo às ordens rígidas de minha mãe para que não fossemos longe devido à hora e o tempo que se fechava, caminhamos pelo quintal imenso da casa.
Mangueiras cobriam boa parte do terreno com suas sombras e me perguntava quem venderia uma propriedade inteira num leilão e tão barato? Lembro-me de ter feito essa pergunta a minha mãe e ela me disse que a casa pertencia a um senhor muito velho que não possuía filhos ou nenhum familiar que pudesse chorar sua morte, ficando então a propriedade em poder do banco para ser vendida.
Morrer sozinho sem ninguém para jogar flores em seu túmulo e nem para rezar um ultimo terço em sua memória devia ser horrível.
Andamos um bocado olhando cada fresta, cada ruína, cada lugar escondido e Josué parecia uma criança, apesar dos seus 17 anos. Descobríamos um mundo novo e diferente daquele em que estávamos acostumados até então.
Haviam vários casebres de madeiras ruindo, poços abandonados,lápides e moinhos entre outras coisas curiosas.
O tempo parecia passar mais rápido daqui de cima estávamos longe de casa.Eu a via lá embaixo, no meio das árvores de copas altas, seu telhado vermelho se sobressaindo com a chaminé fumegante.
Chegamos a uma espécie de galpão grande, cheio de buracos, onde fomos nos proteger da chuva forte que começava a cair fazendo uma barulheira no telhado de zinco.
E já começava a esfriar.
Já passava das cinco e o céu havia escurecido com as nuvens negras e carregadas.O aguaceiro formou grandes poças e o barulho nas telhas era ensurdecedor.
Peguei um caixote de madeira e me sentei a espera do final da tempestade, estava molhada e com muito frio e tudo o que eu queria era um bom copo de leite quente e roupas secas, mas cabia agora esperar.
-A mamãe deve estar preocupada.- disse Josué olhando por um buraco na parede.
-Preocupada? Ela vai nos matar!- disse Josué, agora parecendo mais preocupado ainda.
De repente vejo uma sombra furtiva no fundo do galpão e apesar da escuridão causada pelo tempo havia uma tênue claridade vinda dos buracos do teto e das paredes. Forcei a vista e fiquei perplexa quando vi uma figura pequenina. Uma não, duas meninas.
Era o que parecia, apesar da confusão tinham os cabelos negros escorridos até os ombros, deviam ter uns 3 ou 4 anos no máximo. Mirradinhas e descalças apesar do frio que fazia àquela hora, pulavam nas poças como se pulassem amarelinha. Josué não acreditava no que via.
-Que espécie de mãe deixaria crianças sozinhas assim no frio, na chuva. Será que mora alguém nos fundos dessa tapera?
-Não sei, devem ser vizinhos.- respondi sem conseguir tirar os olhos daquelas figuras que se aproximavam devagar, sempre pulando e confesso que estava morrendo de medo e mal conseguia me mexer.
Era um temor inexplicável.
Um raio caiu muito perto me assustando enquanto Josué se aproximava de uma delas a fim de perguntar o que faziam ali.
Olhei para o lado e lá estava ela.
Como teria aproximado tão rápido perto de mim sendo que estava tão distante quase no fundo do galpão chegava a sentir a respiração pensei em tocá-la, mas ela se virou, nessa hora Josué gritou e foi um grito de pavor que nunca mais vou esquecer.
-Os olhos!!! Os olhos!!! –ele gritava.
Os olhos eram apenas órbitas vazias escuras e carcomidas por vermes. A boca era enrugada, meio que retorcida e corroída como um buraco negro sem fundo de onde vinha um cheiro pútrido de mil sepulturas.
Os cabelos soltavam-se do couro cabeludo aos montes e pústulas de pus e sangue escorriam dos orifícios.
Saímos dali correndo sem olhar pra traz ou se preocupar com a chuva ou os raios, quando chegamos em casa totalmente encharcados não conseguíamos dizer uma só palavra para minha mãe já estava se descabelando de preocupação.
Só depois de uma boa xícara de chá bem quente e roupas secas, ai então contamos o que havia acontecido.
Minha mãe ouviu tudo horrorizada, foi ai que a vizinha uma senhora que cuidava da propriedade já há vários anos nos disse que aquele galpão era mal assombrado, pois ali naquele terreno eram feitos sacrifícios humanos em rituais de magia negra e as vitimas eram todas crianças da região que desapareciam. Algumas os ossos tinham sido encontrados ao redor do galpão, mas outras estavam perdidos em algum lugar.
Ela nos disse que teríamos de voltar lá e dar nosso perdão a elas e abençoá-las, pois estavam sem luz.
Mas e a coragem de passar por tudo aquilo de novo, onde estava???
Se ainda estão lá?...Não sei...
Talvez esperando uma próxima chuva!!!
( R.Raven☥ )